EDUCAÇÃO RELIGIOSA COMO INSTRUMENTO DE EVOLUÇÃO
“Mas ouço clamar de todas as parte: não raciocinai! O oficial diz: não raciocinai, mas fazei exercício! O conselheiro financeiro diz: não raciocinai, mas pagai! O padre: não raciocinai, mas crede!” – Kant –
Por Rodrigo Queiroz
“Fazia algum tempo que o João conheceu um terreiro de Umbanda, lá dentro ele sentia-se muito bem, era como se tivesse em casa. Pensava que realmente tinha encontrado Deus. Era tudo bonito para ele, gostava do som dos atabaques, as danças, enfim...
João fora informado que na Umbanda tudo o que alguém precisa saber os guias ensinam e que portanto não precisa se preocupar em buscar compreender todo aquele Universo simbólico e profundo que existe no terreiro e na Umbanda.
Após um tempo João encontrou dois grandes amigos de infância numa festa e após muito papo o José lhe perguntou se ele praticava alguma religião.
João respondeu naturalmente que estava freqüentando um terreiro de Umbanda o que provocou um susto nos amigos que lhe indagaram:
- Mas meu amigo, isso é macumbaria, porque foi procurar um lugar destes?
- É isso mesmo João, eu já fui num lugar destes e o que vi não pode ser de Deus!
- Vocês estão enganados, é muito bom, só recebo bons conselhos, estou feliz!
- Mas é isso que eles fazem, enganam e iludem para depois levar pro inferno.
- João, está na bíblia que Deus não precisa de intermediários, para que então estes espíritos ficam baixando nestes lugares?
- Bem, é que precisam evoluir...
- Evoluir? Porque não evoluem lá de onde estão? Para que tantos "deuses"?
- Não são "deuses", são Orixás.
- É? E o que são Orixás?
- Bem...São...
- Estes tais Exus, que se contorcem, bebem, etc. Isso é exemplo de evolução?
- Estão aqui para nos ajudar...
- Mas são os mesmos que lá na Igreja que eu vou falam que vem destruir as pessoas.
- Mas...
- João, quais as crenças da Umbanda? Como que vocês explicam a criação do mundo, de onde viemos, para onde vamos? Qual a bíblia de vocês?
- Ora amigos, meu guia ainda não ensinou estas coisas... - João tentou desviar do assunto já envergonhado por não ter as respostas.
- Hã?!? Sei lá João, você é meu amigão e estou preocupado com você, pense no que falamos, você pode estar sendo enganado. Procure uma igreja, pare com este atraso de vida, veja, você nem consegue responder nossos questionamentos, isso é muito estranho...
João encerrou o assunto, depois da festa voltou para casa e antes de dormir ficou pensando no ocorrido. Aquilo o incomodou demais e considerou que seus amigos realmente poderiam estar corretos. Como João não gosta de incertezas e de sentir-se envergonhado por não saber falar sobre algo que lhe parecia bom, então achou por bem "dar um tempo" ao terreiro”.
Neste caso hipotético temos o retrato de que todo aquele que não conhece sua religião fica sujeito a perder sua religiosidade e esta fragilidade se dá de variadas formas e provoca no fiel a dúvida sobre a legitimidade espiritual daquilo que se por um lado fala ao coração por outro não corresponde à razão.
Em tempos de rápida evolução tecnológica e facilidade de informação, nós humanos que somos naturalmente seres racionais e precisamos usar esta condição para justificar nossa natureza, não conseguimos permitir que sejamos envolvidos por algo apenas pelas emoções, pois cedo ou tarde a razão cobra do coração uma satisfação sobre os caminhos e escolhas que estão sendo definidos.
Também vivemos um período de “guerra santa midiática” e este confronto é definido através de argumentos e convicção racional das opções definidas pelos indivíduos. Portanto não sou Umbandista meramente porque gosto do ambiente do terreiro, das pessoas, do cheiro, do som e do entrosamento com os espíritos.
Sou Umbandista porque sua Ciência (teologia) e sua visão cosmológica sobre a existência alimenta minha necessidade racional de saber sobre a origem das coisas, sobre Deus e sua atuação no Universo.
Sou Umbandista porque me sinto livre e responsável por mim, porque aprendi estudando-a que não temos prisões conceituais e que ser livre em pensamento e atitudes é na verdade o maior desafio na experiência humana.
Sou Umbandista convicto, em paz e envolvido porque através de profundos estudos dentro da religião encontrei respostas coerentes para entender a dinâmica de um terreiro, fundamentos para os elementos utilizados, compreensão sobre o que é a magia da Umbanda e aprendi inclusive a entender tamanha diversidade dentro de uma religião tão nova e territorialmente pequena.
Contudo, sou Umbandista porque me livrei da amarra de ficar esperando as respostas caírem do “céu” e fui motivado a ser um buscador e ao alcançar posso ser um facilitador para todos aqueles que sinceramente buscam.
Não sou Umbandista pela emoções ou porque vi coisas espetaculares que até “Deus duvida”, porém sou Umbandista porque ao conhecer e estudar esta religião fui imantado de tanto saber que minha alma ficou em paz, pois a falta de coerência que eu encontrava em outras vertentes religiosas foram na Umbanda supridas e assim me senti Umbandista a tal ponto que me sinto apaixonado e emocionalmente completo na minha busca à evolução espiritual. Falando em evolução espiritual percebi desta forma que somente através de uma educação religiosa é que de fato possibilitamos a evolução, pois entendi que ir ao terreiro, rezar, cantar, dançar etc, não garante a evolução de ninguém e apenas possibilita exercitar a religiosidade que só está naqueles que realmente entendem a religião, sua crença, seus preceitos, suas dinâmicas e sua visão cosmológica da existência, pois quando nada disso eu sei, logo quando um grande conflito me acometer, serei provocado a buscar uma “religião mais forte” ou coisa do tipo, pois não terei aprendido que de nada adianta buscar forças externamente e que como ensina as lições da Umbanda, nós temos a força dentro de nós e que Deus atua na Umbanda como em todo lugar e eu é que devo modificar meus padrões de comportamento que por vezes me cria situações desagradáveis.
Por fim leitor, eu aprendi a aprender e digo a você que busque o conhecimento sobre esta religião para sentir-se religioso e não permita que ninguém lhe iniba nesta busca, pois a busca ao saber é pessoal, intransferível e um patrimônio só seu e ninguém pode interferir na busca de ninguém pois se assim age é porque pretende mantê-lo na mesma treva da ignorância que ele se encontra.
Assim busque sua educação religiosa e acesse ferramentas que possibilitará a tal almejada evolução e ao alcançar uma consciência religiosa você sentir-se-á Umbandista de fato.
Eu ao buscar e encontrar o saber entendi que tudo o que sei é pouco e portanto aprendi que ainda que eu possa contribuir na busca de outros eu sou um eterno aprendiz...
Grande abraço, saravá!
| Att. Ricardo Zapparoli |
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